Engana-se quem acredita que o acidente vascular cerebral (AVC), o popular derrame, só ocorre em adultos. Apesar de o envelhecimento ser um fator de risco natural para o entupimento ou rompimento dos vasos que levam sangue ao cérebro e que leva ao AVC, esse tipo de situação também pode ocorrer em jovens e até em crianças. A boa notícia, no entanto, é que nessa faixa etária as chances de recuperação são grandes.
POR QUE ACONTECE O AVC?
É importante lembrar que o AVC se dá pela saída ou interrupção súbita de circulação sanguínea em alguma região do cérebro ou em várias áreas ou em mais áreas específicas da região cerebral. Os efeitos são neurológicos e podem levar a criança a sequelas que vão desde leves às mais profundas.
FAIXA ETÁRIA DO AVC INFANTIL
O AVC infantil ocorre em crianças de 1 a 18 anos de vida. Porém, crianças abaixo de um ano também podem sofrer o AVC, especialmente bebês que estão nascendo e enfrentam algum quadro de complicação no parto, como algum distúrbio que cause uma falta de sangue no cérebro da criança.
PRINCIPAIS CAUSAS
Diferentemente do AVC que ocorre em adultos, que geralmente está relacionado a doenças nas artérias e a fatores de risco como tabagismo, obesidade e hipertensão, o AVC infanto-juvenil tem como principais causas:
- Anemia falciforme (doença hereditária caracterizada pela alteração dos glóbulos vermelhos do sangue).
- Cardiopatias congênitas ou cirurgias cardíacas.
- Tromboembolismo.
- Infecções do sistema nervoso central (meningites e encefalites).
- Infecções sistêmicas graves (sepse).
- Infecção pelo vírus varicela-zóster.
Importante ainda ressaltar que, crianças e adolescentes mais vulneráveis ao AVC são aquelas portadoras de doenças reumatológicas, como lúpus, e doenças crônicas nas artérias, como displasia fibromuscular e malformações arteriovenosas. Os recém-nascidos, com até 28 dias de vida, têm um risco maior com uma média de um caso de AVC para cada 3500 bebês devido a problemas congênitos.
PRINCIPAIS SINTOMAS
Assim como nos adultos, qualquer déficit neurológico de instalação súbita, como perda da força muscular, dormência, tontura e alterações de memória ou na fala, deve ser avaliado como possível decorrência de um AVC. Nas crianças e nos adolescentes, porém, destacam-se os seguintes sintomas:
- Dor de cabeça de início súbito (presente em até 30% dos casos).
- Crises epilépticas (presente em 20% a 50% dos casos).
E nos recém-nascidos:
- Apneia durante o sono.
- Diminuição da força muscular.
- Baixa sucção.
- Irritabilidade.
Importante prestar muita atenção a esses sinais de AVC nessa população, pois apenas um terço dos casos são diagnosticados corretamente dentro das seis primeiras horas de AVC e como já falamos anteriormente, o diagnóstico deve acontecer no momento em que os primeiros sinais se apresentam, assim como o tratamento (processo de reabilitação), também precisa ser iniciado rapidamente.
DICAS PARA IDENTIFICAR O AVC EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Uma maneira de saber identificar os sinais dos sintomas do AVC é se lembrar de algumas dicas para providenciar o socorro necessário e saber se a criança responde aos estímulos. Veja abaixo o mnemônico S.A.M.U.
Vale ressaltar que o esquema abaixo é usado também para que pais e responsáveis tentem perceber com rapidez se há indício de um sintoma mais agudo.
S – Sorria (ao sorrir, a criança pode apresentar paralisia facial de um lado do rosto);
A – Abrace (para ver qual lado dos membros da criança está paralisado);
M – Música (para ver se houve alteração de fala, com dificuldade);
U – Urgência (ligar para o serviço de atendimento de urgência o mais rápido possível).
Além desses sintomas mais agudos citados acima, a criança pode ter sensação de fraqueza, alteração de fala, visão dupla, crises convulsivas, perda da coordenação motora, dor de cabeça e tontura.
O AVC ocorre ao mesmo tempo em que os sintomas acontecem. Então, a criança precisa ser levada imediatamente para o socorro necessário.
PREVENÇÃO DE AVC EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
A prevenção primária do AVC na população infanto-juvenil dificilmente é realizada. Ocorre que a situação que predispõe ao problema é muitas vezes ignorada pela família, até o momento em que o acidente vascular cerebral acontece.
No caso específico das crianças e adolescentes com anemia falciforme, é possível estimar o risco de AVC por meio do exame de doppler transcraniano — realizado periodicamente sob orientação do hematologista pediátrico. De acordo com as alterações presentes nesse exame, os pacientes com anemia falciforme podem ter que fazer transfusões de sangue para se prevenirem de um AVC.
Nos pacientes sabidamente portadores de doenças que predispõem ao surgimento de trombose, pode ser indicado pelo médico o uso profilático de medicamentos anticoagulantes.
INFORMAÇÕES IMPORTANTES
A Síndrome de Down não tem relação com o AVC. Por outro lado, vale lembrar que a Síndrome de Sturge-Weber, que leva a alterações vasculares dentro do cérebro tem direta relação com o AVC infantil.
Outra doença, a Kawasaki, leva a uma inflamação generalizada dos grandes vasos arteriais que saem do coração para as artérias do cérebro e que podem levar ao AVC infantil. Outro detalhe importante de ser lembrado é que a hemiparesia, paralisia de um dos lados do corpo, é um dos efeitos vindos do AVC infantil.
Nesses casos, o processo de reabilitação pode ser bastante eficaz, uma vez que o cérebro infantil ainda está em desenvolvimento e muito mais aberto a recuperação.
TRATAMENTO PÓS-AVC
Embora o AVC também seja grave nas crianças e nos adolescentes, podendo levar à morte ou deixar sequelas, como dificuldade de andar e de falar, as chances de recuperação nesses pacientes são maiores do que nos adultos. Isso ocorre porque nos primeiros anos de vida a plasticidade neuronal, ou seja, a capacidade que os neurônios têm de formar novas conexões, é maior. No entanto, quanto mais rápido forem feitos o diagnóstico e o tratamento, melhores serão as chances de reversão das sequelas.
Na fase aguda do AVC, o mais importante é identificar o fator etiológico (causador), para avaliar se há indicação de tratamento específico, a fim de prevenir recorrência do quadro.
No momento, o único tratamento existente após a fase aguda, para melhora das sequelas, é a reabilitação.
Aqui na Santa Clínica, além de possuirmos uma estrutura completamente acessível e adaptada para receber pacientes com ou sem dificuldade de locomoção, temos uma equipe especializada e pronta para atender casos de reabilitação pós AVC. Graças ao trabalho em conjunto de neurologistas, fisiatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, entre outros profissionais, várias crianças que sofrem AVC conseguem se recuperar gradativamente e chegam à idade adulta sem sequelas.